quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Magis consiliarius est, quam auxiliarius.

É mais fácil aconselhar que praticar.


Hoje é um daqueles dias em que nada dá certo.
Você levanta com o pé esquerdo, sabe?

Seu corpo acorda mais pra lá, que pra cá...
Seu rosto não colabora.
Sua unha quebra.
Seu cabelo? Melhor nem comentar!

Seus amigos somem.
Sua família te magoa.
Seu companheiro de trabalho te dá trabalho, literalmente.
E seu amor... Que amor?

A chuva cai.
Seu carro quebra.
Sua prova vai ser logo depois do feriado.
E o feriado? Vai passar em casa... Estudando.

Você se sente perdido.
Se sente mal, aparentemente sem motivo.
Quer chorar...
Quer gritar? Manda bala... Você está sozinho nessa mesmo.

E as pessoas te dão conselhos...
Falam o que você não quer ouvir.
Criticam e julgam.
E você? Aceita ou não dá ouvidos?

Depois de um dia desses...
Me resta dormir logo, orar, refletir...
Me resta chorar, gritar em silêncio, esperar...
E pedir para manhã, poder acordar com o outro pé!



domingo, 22 de abril de 2012


Depois de tanto tempo, o frio chegou!
Eu esperei tanto por ele...
Eu enxergo o mundo com meus próprios olhos.

Para mim, o frio acalenta, aconchega, aquece...
O frio dá ânimo, energia e me tira da comodidade... 
Me dá uma vontade louca de apenas pensar.

Eu estava tão perdida com o calor, com a agitação, com o movimento, que esqueci de mim.
Faz tempo que não me encontro... Que não me reencontro. 
Quem sou eu? Eu me perdi? Onde está a minha essência?
Se eu não sei mais quem sou, como alguém poderá me encontrar?
Se eu não sei mais quem posso ser, como alguém poderá ser minha outra parte?
Se eu não sei mais quem quero ser, como alguém pode me salvar?

Eu preciso de um tempo só para mim. Para poder reviver momentos, pessoas e sentimentos...
Eu só queria um abraço, um colo e ver que alguém me ama, admira e respeita, sem eu dar nada em troca... A não ser meu próprio eu.
Eu só queria me sentir segura e lembrar quem fui, quem sou e quem poderei ser...
Eu só queira poder curtir esse frio, sem ter medo do que está por vir...
Sem ter medo do destino, do acaso, do futuro...

Se tudo terminasse agora, seria eu, completa?








segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Sed volo, vis venire ad me.

Bem querer, vem querer-me.

Chegamos rindo. A noite tinha sido muito boa... E fria!

- Entra... Está com sede? Não tenho muita coisa aqui... Amanhã já estou voltando para a nossa cidade mesmo, então só estou com água e refrigerante.
Ele já foi abrindo a geladeira e me oferecendo... Fui entrando, coloquei minha bolsa em cima da mesa e me sentei no sofá dele, ligando a televisão pelo controle... Aquela casa era mais minha que dele.
- Pode ser um copo de refri mesmo...
Ele pegou, me deu o copo e tirou a camiseta, indo para o banheiro.
Eu nem o olhava mais... Já era tão normal. Ele era bonito, mas era como um irmão para mim.
- O que vai fazer?
- Só vou jogar uma água no corpo...
- Ahn... Eu preciso dar uma limpada aqui pra você, te ajudar a arrumar suas roupas...
Estava tudo jogado. Por que ele teimava em deixar a casa dele daquele jeito?
- Ah, não precisa minha linda... Deixei assim porque amanhã vou embora mesmo, finalmente férias...
Realmente... Era bom ficar de férias e poder voltar para a nossa cidade.
Éramos amigos de anos... Muitos. Éramos uma dupla e éramos um, ao mesmo tempo.
- Não vem aqui não. Vou tomar banho de porta aberta para a gente ir conversando...
- Você vai morrer de frio!
- É... Tá frio mesmo, mas pelo menos não te deixo aí sozinha... Vamos conversando.
Eu o amava! Ele era tão fofo algumas vezes... Mesmo nos detalhes.
Depois de conversarmos os cinco minutos que duraram a ducha dele, ele chegou com uma calça jeans bem desgastada, blusa larguinha azul marinho de manga comprida e aquela cueca branca aparecendo... Cabelos castanhos molhados e bagunçados e aquele sorriso lindo e branquinho que eu amava.
- Aii, nada como uma ducha!
E foi se encostando em mim para que eu desse um espaço do sofá para ele. O que eu fiz, quase que automaticamente.
- Eu também quero ir para tomar um banho e me esquentar...
- Ah não... Fica aqui. Depois eu te levo e volto para cá.
Morávamos a poucos quarteirões um do outro... E perto de nossa faculdade.
- Que isso! Eu vou sozinha.
- Até parece que eu vou deixar.
E sorriu para mim. Eu sorri de volta. Não tinha muito o que dizer... Eu sabia mesmo que ele não me deixaria ir embora sozinha.
Ele se levantou, pegou um edredon para mim e praticamente me embrulhou nele.
Eu estava com as pernas cruzadas, e depois de me cobrir, ele se sentou, colocando o braço pra cima, para que eu me encostasse nele... A gente sempre ficava assim, e era uma delícia.
- Pronto, agora você fica quentinha.
O sorriso dele era tudo. Não tinha como não sorrir também quando ele fazia isso primeiro.
- Mas então... Acha que a Isabela tá me dando moral?
Isso me irritava. Quem é que não dava moral para ele? Meu humor tinha acabado de mudar e eu tinha certeza que logo ele repararia.
- Acho...
- Iiiih, o que foi?
- Nada ué. Acho que ela tá te dando moral sim, e acho que você fica com ela assim, num piscar de olhos.
Eu disse estralando os dedos.
- Ah, não é assim... Eu até que acho a Isa bem bonita, mas não é assim também.
- Não é assim o quê?
- Que funcionam as coisas... Eu preciso saber se ela está afim... Se ela quer mesmo alguma coisa, ou se é só o jeito dela em ser toda carinhosa... E eu também sou seletivo, você sabe.
E piscou para mim.
- É o jeito dela em ser toda dada. Ela tá se jogando Rafa.
- É impressão minha ou você tá com ciúme?
- Ciúme de quem?
- Espero que de mim... Se você falar que é da Isa, posso achar estranho...
- É Isabela. E não, não tô com ciúme. Nem de um, nem de outro.
Para minha surpresa, ele não rebateu e ficou me olhando, sorrindo.
- O quê?
- Não... Nada.
Suspirei.
- Fala Rafael...
- Não... É que, por um momento, eu fantasiei você...
Eu só podia não estar ouvindo bem.
- Como é que é?
- É... Eu meio que fantasiei você ficando com ciúme de mim, sei lá... Foi meio bobo.
Eu não tinha achado... Mas eu o conhecia e sabia que ele não ia me explicar.
Se não fosse pelo som da televisão, tudo teria ficado muito quieto.
Eu fiquei confusa porque a gente nunca ficava sem graça um com o outro... O que estava acontecendo?
Passou um minuto? Parecia uma hora... Eu só tentei quebrar o gelo.
- Você é meu irmãozinho, eu sempre tenho ciúme de você.
Ele me olhou e deu um sorrisinho meio sem graça.
- O que foi, Rafa?
Agora sim ele tinha me dado um sorrido de verdade.
- Nada... Você está certa. Irmãos...
- Ih, pode parar... Tem coisa aí... Pode falar.
Eu sabia que algo tinha acontecido... Já fui me desencostando e cobrando dele, porque eu sabia que se não fosse assim, eu não teria uma resposta.
- Não... É que... Tá bom, é o seguinte...
Ele se virou de frente pra mim, para me olhar nos olhos.
- Hum?
Eu esperava atenta.
- Sabe aquela hora que o Marcelo me puxou de canto e a gente ficou conversando?
Fui reconstituindo a cena da nossa noite na chopperia.
- Sei...
- Então, ele veio me falar de você... De como você estava linda, e de como eu era sortudo por estar quase sempre com você, já que a gente era tão amigo...
O Marcelo era um amigo em comum, eu nunca imaginaria... Eu devia estar com uma expressão de surpresa e confusão ao mesmo tempo porque o Rafael foi aumentando a velocidade e a intensidade enquanto me contava a conversa que os dois tiveram.
- Ele encheu sua bola... Disse que você é um mulherão, mas que a gente acabava nem comentando essas coisas porque éramos todos amigos e tal... E aí ele foi falando e eu fui ficando puto, porque... Sei lá porque, entendeu?
- Mais ou menos, na verdade...
Era muita informação para mim. E ele continuou...
- É que, eu sei que a gente é como irmão, e eu nunca olhei mesmo pra você com outros olhos, até hoje, por causa das coisas que ele falou... E o meu ciúme, não foi um ciúme de amigo, ou de irmão, sabe? Foi ciúme de tipo, pera aí cara, ela é minha... Mas eu sei que você não é minha, não precisa fazer essa cara...
Eu nem tinha reparado na cara que eu estava fazendo até ele falar isso.
- É que, sei lá... Independente da amizade, eu sou homem... E você mulher. Uma linda mulher, por sinal... E eu fiquei enciu...
Eu comecei a sorrir...
- Que foi?
- Quê? Nada... É que, nossa, é muita coisa pra eu absorver.
Ele se acalmou e respirou sorrindo, voltando a se encostar no sofá.
- Desculpa... É mesmo.
- O Marcelo então...?
Perguntei sorrindo.
- Pois é... Pra você ver.
- Ah, ele é gatinho, acho que dá pra gente fazer um bom negócio.
Ele me olhou pasmo colocando a mão na testa, sem acreditar no que eu tinha acabado de falar.
- Puuuuutz... Sério?
Eu caí na gargalhada.
- Relaxa Rafa, é brincadeira... Nada a ver a gente.
Ele sorriu aliviado, me abraçando.
- É por isso que você é minha...
O silêncio voltou e eu olhei direto para ele, ainda abraçados.
Ele reparou... E tentou consertar.
- Preferida... Minha preferida.
Eu só sorri. Ele pegou meu rosto e me deu um beijo na testa.
Ficamos lá parados, só curtindo... Meu coração acelerou um pouco.
Ele desceu o rosto, na mesma medida em que eu subi o meu.
Nos beijamos. Eu ainda de pernas cruzadas, enrolada na coberta e encostada nele... Agora quentinha.
Ele com uma mão no meu rosto e um braço envolta de mim, me abraçando.
Estava aconchegante.
O beijo foi quente, parecia que ele queria fazer isso há muito tempo.
O que me surpreendeu foi a minha vontade, até então, desconhecida...
Quando paramos, ele continuou fazendo carinho no meu rosto e pescoço, com a testa apoiada na minha, me olhando nos olhos e sorrindo.
Eu sorri de volta e fui logo adiantando..
- Pode esquecer Isabela.
Ele gargalhou alto me dando outro beijo.
- Com certeza, a minha preferida... E minha!
Eu não fui embora aquela noite...


domingo, 9 de outubro de 2011

Balbus balbum (rectius) intellegit.

Cada qual com seu igual.


Era um feriado e eu poderia descansar, sair, colocar algumas coisas em dia...
O dia era meu, eu poderia fazer o que quisesse.
Optei, após pensar muito, por arrumar meu quarto, que estava precisando de uma atenção especial fazia tempo.
Fiz uma seleção de músicas gostosas, vesti minha camiseta surrada, um short jeans e fiz um rabo de cavalo mal arrumado... 
Abri a janela deixando que um raio de Sol e o ventinho fresco de chuva entrassem pelo meu quarto.
Adorava sentir o ventinho gelado e o cheiro da chuva. Gostava mais ainda era de ver surgir filetes de Sol por meio das nuvens carregadas prateadas. Era meu tempo perfeito!

Comecei então a arrumar meu armário... E foi aí que começou meu frenesi.
Encontrei coisas que não imaginava encontrar... Coisas que nem me lembrava mais!
Cartas e lembrancinhas de amigos, camisetas assinadas pela minha galera nos últimos dias de aula (me diverti vendo assinaturas de amigos que eu não lembrava mais!) e muitas fotos.
Fotos de festinhas de aniversários, na escola, em encontros com os amigos... Tudo muito bom.
Foi quando peguei uma foto que me deu um apertinho no coração.
Eu e ele, abraçados, com o sorriso mais verdadeiro do mundo.

Ele foi o primeiro menino que eu tinha gostado.
Não no sentido de me apaixonar, mas foi o primeiro menino que suportei.
Estávamos na segunda-série?
Meninas de um lado... Meninos de outro!
Mas ele foi o primeiro menino que fez com que eu gostasse de ficar ao lado dele.
Ele era super legal! Meus pais o adoravam!
Éramos inseparáveis.
Me peguei sorrindo enquanto olhava nossa foto... 
Parecíamos irmãos durante todo o tempo da escola... E foi aí que meu peito deu aquela apertadinha.
Me lembrei que tínhamos nos afastado.
Nada tinha acontecido... Simplesmente nos separamos.
Coisas da vida... Pessoas vêm e vão...

Meus olhos enxeram d'água.
Que saudade!
E uma música da minha seleção começou a tocar... Aquela música que me lembrou de tudo o que eu era.
Foi aí que uma luz clareou minhas ideias.
Cadê o celular? Cadê? ... Aqui! Fernando... Fernando...? Achei!
Eu tinha o número dele ainda... Será que era o mesmo?
Já tinham se passado 6, 7 anos... Era possível?
Eu liguei... Tinha que tentar!
Pra minha surpresa, começou a chamar... E enquanto chamava, sentia meu coração bater na boca. De repente, a voz dele ecoou nos meus ouvidos como algo mágico.
Será possível que é você mesmo quem está me ligando?
Será possível que você tenha o mesmo número de celular há tempo tempo?
(risos), pelo jeito não sou só eu, certo?
Eu sorria.
Que saudade!
Nem me fale! Já faz o quê? 7 anos?
Acho que sim... Como nos separamos assim?
Não sei. Foi tão de repente... E tão... Sei lá. Absoluto. Nunca mais nada. Não nos vimos mais, não nos falamos...
Pois é... E a gente era tão...
Unidos?
Isso...
Eu sei... 
A gente fazia muitas loucuras, né?! Lembro daquela vez que a gente resolveu ir comer bolinho de chuva na sua casa, mas pra isso tivemos que atravessar a cidade inteira embaixo daquela garoa...
A gente só não contava que logo depois viesse aquela chuuuuuuuuva torrencial do nada! ...
Isso mesmo! O melhor foi chegar na sua casa com aquela chuva e dar aquele pulo na sua piscina! 
Verdade! Ficamos até de noitão... Até minha mãe gritar a gente pra comer o bolinho...
Que estava maravilhoso, diga-se de passagem! Foi bom...
Muito bom...
Falávamos tudo em meio a muitas risadas!
Ei, está afim de uma outra loucura? 
Agora?
Claro que é agora...
O que tem em mente?
Ainda mora no mesmo lugar?
Não mais... Estou morando na casa debaixo da minha avó, lembra?
Como poderia me esquecer? Seguinte... Dá uns vinte minutos e sai... Estou indo aí!
O quê? 
Eu fiquei surpresa e nervosa... Não parava de rir.
É... Estou louco pra te ver! Vinte minutos...
Certo, estou esperando...
Ok, beijo.
Beijo.

Assim que desliguei, parecia uma louca tentando me arrumar.
Corria de um lado para o outro, mas não encontrava nada que pudesse supostamente melhorar minha aparência.
Consegui apenas tirar a camiseta surrada e colocar uma blusinha...
De resto, ficou tudo igual...
E eu que achei que os vinte minutos iam demorar séculos?
Passaram como se fossem vinte segundos!
Só me dei conta quando ele tocou o interfone (que eu não atendi...).
Respirei fundo e fui para fora... 

Ele estava lá, lindo, com aquele sorriso no rosto que eu tanto amava.
Caraaaaaaca, você não mudou nada!
Ah, pára!
É sério... Lindona do mesmo jeito... Um pouco mais alta... Um pouco mais... Você, eu acho.
Você está ótimo!
Tenho me esforçado pra melhorar um pouco... No colégio eu era bem tenso.
Não aguentamos e começamos a rir.
Era nada... Éramos gêmeos, esqueceu?
E fui chegando perto dele... Ele me pegou e me deu o abraço mais gostoso do mundo!
Olha só o que eu trouxe!
Me afastou e se dirigiu ao carro. Quando se virou, vi que tinha em mãos uma câmera Polaroid.
O quê?! Está brincando?
(risos), você lembra?
Claro!! Você queria uma dessas mais que tudo no mundo.
Pois é... Vem cá!
Paramos lado a lado e ele bateu a foto. Ela saiu, ele a chacoalhou um pouco e aos poucos fomos surgindo lá.
Ele pegou uma caneta, escreveu algo no verso da foto e me deu.
Leia só quando entrar, tá?
Eu sorri acenando que sim com a cabeça.

Ficamos conversando mais um tempo.
Muitos abraços, muitas risadas, muitos olhares...
Eu não parava de admirá-lo, e nem ele a mim...
Era como se a gente nunca tivesse se afastado um do outro...

Ele foi embora... Eu entrei.
Leve, feliz e um pouco mais completa.
Virei nossa foto e li:

"Agora estaremos sempre juntos... Promete?
Fer.
09/10/2011."

Eu sorri.
Peguei meu celular e enviei:
"Sempre... Prometo!"

Tenho certeza que lá, ele sorriu de volta.




domingo, 24 de julho de 2011

Homo doctus in se semper divitias habet.

Do saber vem o ter.

Eu estava cansada de ficar em casa, ou sair com as mesmas pessoas para os mesmos lugares.
Na verdade, eu estava cansada de esperar algo acontecer.
Eu fazia minhas coisas esperando que uma pessoa especial surgisse em minha vida, como nos contos de fadas, ou como em filmes americanos.
Eu esperava que algo especial acontecesse...
E essa minha passividade já estava me irritando.
Resolvi então fazer algo, ser a mulher super ativa que eu costumava ser... Me aventurar um pouco nesse mundão louco.
Nada muito extravagante me atraía... Meu mundo, para ser realmente bom, não precisava ser tão doido... Mas eu queria algo diferente hoje.

Me arrumei. Coloquei minha melhor roupa, depois de um banho maravilhoso.
Deixei meus cabelos secarem naturalmente. Eles ondularam e enrolaram levemente...
Eu gostei.
Deixei uma parte solta, prendendo a parte de cima em um coque mal arrumado.
Ficou bem informal, natural e bonito.
Me perfumei, me maquiei e saí.
Eu estava me sentindo bem com meu salto alto, minha roupa nova e meu sorriso no rosto.

Peguei minha bolsa com minha carteira, algumas coisas para retocar a maquiagem, se fosse necessário, e meu celular.
Entrei no carro com um destino em mente: O Balada Bar.
Uma boate gostosa, com música eletrônica e pessoas bonitas.
Cheguei absoluta e entrei...
Foi aí que me senti nervosinha.
Eu estava sozinha, em uma boate na cidade grande.
O que eu esperava dessa noite?
Mas não deixei que minha insegurança me atrapalhasse.

A música era contagiante.
Não dava para não dançar, ou para eu não me sentir linda naquele lugar.
As pessoas bem arrumadas sorriam, brindavam bebidas coloridas e se conheciam.
Fui logo para o bar, pois sabia que todos que estavam na boate passariam por lá pelo menos uma vez na noite.
Observei as pessoas. Vi de tudo.
Muitos homens lindos, muitas mulheres modelos, muitos beijos, muita bebida, muitos sorrisos.
Tudo muito.

Duas amigas, então, vieram em direção ao bar.
Lindas, bem arrumadas... E pediram suas bebidas...
Eu quero um Cointreaupolitan.
E eu, um Frozen Daiquiri.
O barman sorriu para as duas fazendo, com a cabeça, um movimento de aprovação.
Eu não tinha reparado até então, mas ele era lindíssimo.
Em menos de um minuto, os drinks estavam em cima do bar.
O da primeira tinha uma cor rosa fluorescente, e o da segunda, era meio branco.
Obrigada lindão.
Não há de quê, senhorita.
Eu quero você agora, como faço?
Desculpa não poder ajudar nisso.
Pensei que estava aqui para nos servir.
Acertou senhorita. Mas só nas bebidas...
Você não é comprometido é?
Não senhorita.
É hetero?
Sim, sou.
Então o quê?
As senhoritas desejam mais alguma bebida?
Não, desejo você... E aí?
As moças quase o engoliam do outro lado do balcão... E ele, sempre sorrindo.
Eu não pude não prestar a atenção na cena.
Não estou interessado. Com licença. Deseja algo senhorita?
E deixou as amigas de lado, para me atender...
As duas saíram irritadas, como se tivessem sido, pela primeira vez na vida, dispensadas por um homem daquele porte.
Ah, é a primeira vez que venho... Pode me arrumar algum cardápio, coisa assim?
Com certeza! Um momento...
E procurou, na parte inferior do balcão, algo com os nomes e ingredientes das bebidas.
Aqui está, senhorita.
Obrigada... Você tem que aguentar quantas mulheres assim por noite?
Perguntei puxando assunto, enquanto lia os nomes estranhos dos drinks.
Eu pude ler, por cima, nomes como Golden Dream, Ferrugem, Tropial Peach, Manhattan, Caress e Crazy Mint.
Ele me abriu um sorriso gostoso.
Ah, encontro muitas desse tipo, todas as noites... Já nem conto mais... E minhas respostas são quase que automáticas.
Você deve ter perdido a conta de quantas mulheres já se envolveu por aqui, então...
Eu nem me envolvo mais... Perdeu a graça, se é que quer saber.
Mas elas eram lindas.
Sim, eram... Mas mulheres que chegam chegando assim, têm graça só no começo... Depois perdem o encanto. Hoje em dia, nem olho mais. Para mim, elas parecem todas iguais.
Entendi... Quero dois Crazy Mint.
É pra já. A senhorita está com quem? Com perdão da indiscrição.
Sozinha.
Os dois Crazy são para a senhorita?
São sim.
Aquele sorriso branquinho dele diminuiu um pouco quando disse que ambos eram para mim.
Esse é um coquetel ligeiramente forte, senhorita...
Tudo bem.
Ele ficou parado me olhando. Eu sorri.
O que foi?
Posso lhe oferecer uma outra bebida? Aposto que a senhorita irá gostar.
Eu fiquei surpresa... Por que não poderia ser a bebida que eu tinha escolhido?
O que tem de errado com a minha?
Nada senhorita, é um bom coquetel... Mas já vi mulheres fazendo coisas bem extravagantes com o Crazy... Pensei em lhe oferecer algo diferente... Algo que combinasse mais com seu porte.
Eu gostei... Não sabia se estava entendendo direito, a música era alta... Mas gostei.
Meu porte? Bom... O que tem em mente?
E enquanto conversava comigo, ia preparando meu drink. Garrafas giravam, ele dançava de forma sutil e fazia malabares com os instrumentos que tinha.
Tenho em mente o Gala Day's. É uma bebida mais suave... Mais doce, como seu sorriso... Um pouco de café, leite condensado, sorvete de creme, vodka e licor Chocolate Mint, já que queria um coquetel de menta...
Parecia realmente delicioso... E ele era muito rápido...
Foi fazendo tudo enquanto falava comigo. O vi batendo tudo na coqueteleira, colocando no copo coquetel e adicionando uma pedra de gelo.
Uma pedrinha de gelo é o suficiente para derreter o sorvete e gelar as bebidas... É uma batida mais suave, mais elegante...
Ele segurou o copo na minha frente esperando que eu o pegasse.
Eu sorria.
Nossa, impressionante! Você é rápido... Bom, vejamos...
Eu provei e era maravilhoso. Ele ficou me olhando na expectativa.
O que achou?
Nossa... Muito bom!
É por conta da casa.
Isso tinha me pego de surpresa.
O quê?! Não... Eu vou pagar, valeu muito a pena... A bebida é ótima!
Não senhorita, é por minha conta, faço questão...
Tem certeza? Qual seu nome?
Tenho certeza... Gabriel... E seu nome, senhorita?
Laura.
Eu saio do balcão daqui uma hora, Laura... Se importaria se eu te procurasse?
Ele era lindo, educado, atencioso... Eu tinha adorado tudo nele...
O estilo, as roupas, o cabelo, o sorriso, a voz, o perfume que eu sentia do outro lado do balcão, a agilidade... A forma como ele me olhava nos olhos...
Não, claro que não...
Fico feliz... Fazia muito tempo que não me interessava por alguma mulher daqui da boate...
Eu devo ter ficado vermelha, porque ele continuou...
Você é bem diferente delas... Quero te conhecer melhor.
Tudo bem, a gente conversa... Vou ficar por aqui mesmo... Perto do bar.
Certo senhorita, até depois então... Qualquer coisa, é só me chamar.
Obrigada.

Ele sorriu para mim, deu uma piscadinha e se afastou para atender as outras pessoas.
Eu sorria enquanto bebia minha deliciosa batida.
Eu tinha feito algo... Estava ativa!
E algo tinha finalmente acontecido...
Daí por diante eu não sabia o que aconteceria...
Mas já tinha valido a pena, para mim.






terça-feira, 12 de julho de 2011

Laetitiae proximus fletus.

O riso está perto do pranto.

Só se for o chorar de tanto rir...
Sorria, amigo.
A vida é tão bela!
E tão curta...
Vamos fazer valer à pena?
Isso!!
Vamos fazer gostoso...

Ponha uma música boa...
Ouça "Fast Car" de Tracy Chapman, "Feeling Good" de Cy Grant, "Turning Tables" da Adele ou "Young Blood" de The Naked and Famous.
Ouça Frank Sinatra, Louis Armstrong, Freddie Mercury...
Tony Bennett, Nat King Cole, Bruce Springsteen...
The Cranberries, Yanni, Pavarotti... 
Jack Johnson, John Mayer, Aerosmith...
O Rappa, Lenine, Chico Buarque...
Feche os olhos.
Dance... É só você e você mesmo.

Arrume-se, ou desarrume-se.
Solte os cabelos, balance-os...
Ponha uma camiseta surrada, ande descalço.
Deite na sua cama bagunçada.

Se jogue.
Saia desse plano...
Imagine, fantasie e sonhe...
Tire o dia pra você.
E não se esqueça de sorrir.

Pegue algo para beber ou comer.
Algo que goste muito.
Se lambuze.
Passe a lamber dos dedos... E os lábios.

Espirre algum perfume muito gostoso, e que te lembre algo bom.
Inspire... Expire... Respire!
Sinta o ar entrando em seus pulmões.
Sinta o ar saindo.
Só não sinta o ar faltando.
Só se for de tanto rir.

Ria então.
Gargalhe.
Muito.
Alto.
De você e para você.

Se espreguice.
Se estique.
Se alongue.
Goste de seu corpo e o trate bem.

Pule.
Dance.
Se movimente como se não houvesse mais dia nenhum para isso.
Ninguém estará mesmo te vendo.
Só você poderá (com prazer!) rir de você mesmo.

Pense.
Reflita.
Veja tudo o que você é, quais são seus objetivos, quais são seus valores.
Se desculpe.
Se perdoe...
E agradeça.

Agradeça pelo o que tem.
Pelo o que já teve.
E pelo o que terá...
E sorria mais uma vez.

Emane coisas boas.
Seja uma pessoa educada, carinhosa, meiga.
Gentileza gera gentileza.
Seja uma pessoa boa de verdade, sem esperar nada em troca...
Simplesmente por ser.

Por fim, se ame.
E ame.
Sem medo.
Tudo o que é intenso, vale à pena.
Então viva intensamente.






terça-feira, 28 de junho de 2011

Vae mortuis!

Triste de quem morre!


Em um dia comum, você resolve fazer algo.
Algo simples, algo pequeno, corriqueiro, talvez sem muita importância...
E, a partir desse algo, alguma coisa realmente importante e mágica acontece.
Você tem um momento seu com você mesmo.

A música certa está tocando.
O cheiro certo exala de algum lugar.
Você faz coisas que fazia antes, mas que agora têm outro sentido.
Alguma coisa está acontecendo... É o universo conspirando a seu favor?

Esses dias saí de casa.
O sol estava quentinho e um vento passou pelos meus cabelos.
Senti um cheiro que me lembrou minha infância.
Era cheiro de felicidade, misturado com cheirinho de chuva.

Eu fechei meus olhos...
E sorri.
Era eu e eu mesma.
Apenas eu me entenderia.

Isso passou...
Não comentei sobre o quê senti.
E hoje algo mágico novamente aconteceu.
Meu coração ficou mais leve.

Escolhi umas músicas que mexem comigo...
Olhei fotos de anos atrás.
Conversei com algumas pessoas especiais...
E finalmente vi que não cabia mais em mim, nenhum sentimento ruim.

Eu estava livre, graças a Deus!
Eu me lembrei de quem e de como eu era...
Me lembrei de tudo e todos que me fazem feliz.
Me lembrei de tudo o que passei, plena.

Eu fechei meus olhos...
E sorri.
Era eu e eu mesma.
Apenas eu me entenderia.

Eu tinha ressuscitado!
Eu renasci...
Renasci voltando a ter minha essência, só que renovada.
Feliz, leve...

Agora eu poderia sorrir de verdade...
Poderia orar de verdade...
Poderia ser eu, só que ainda mais verdadeira.
E eu agradeço... Apenas agradeço.














Amém.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Vultus est index animi.

O rosto é o espelho da alma.


O vazio.
Conhece?
Eu o conheço... Somos íntimos.
Ele vem de repente... Como uma chuva de verão.

Estou no meio da multidão.
Festas, casamentos, faculdade...
Pessoas passam, conversam e sorriem.
E ele aparece.

Acontece em uma fração de segundos.
É como se o ar faltasse, mas eu estivesse respirando normalmente.
E buracos se abrem...
Um sob meus pés e um, dentro de mim.

Logo minha visão escurece.
É como se eu enxergasse apenas aquilo em que estou focada.
Toda minha visão periféria fica negra...
E eu já me perco no espaço.

Eu não estou triste... Tampouco estou feliz.
Eu nem sei se estou lá.
É como se meu corpo estivesse.
Mas minha alma ou meu espírito não.

Tudo relacionado à mim, pára.
Meu tempo pára. Meu mundo congela.
E tudo está normal.
Todos estão normais.

É como se meu cérebro tivesse parado de trabalhar, mas eu ainda pensasse.
É apenas um vazio.
Não há dor. Não há raiva. Não há tristeza.
Não há prazer. Não há esperança. Não há felicidade.

É algo que acontece de uma hora para a outra.
Dura frações de segundos.
Não ocorre em tempos regulares.
Posso ficar meses sem ter a sensação. Ou ela pode voltar mais de uma vez na semana.

É como se eu não entendesse o motivo de estar naquele lugar, àquela hora.
É como se eu não tivesse nada, nem ninguém.
É como se não tivesse nem eu mesma.
É como se eu não existisse por alguns segundos.

E, da mesma forma que veio, tudo isso vai embora...
Repentinamente.
Como se tudo voltasse a fazer sentido.
E como se eu me reencontrasse.

O vazio é preenchido.
Minha alma, ou espírito voltam para meu corpo.
Minha visão clareia e eu volto a sorrir com os outros.
Eu me lembro exatamente o motivo de estar onde estou.

Me lembro que tenho tudo e todos.
Me lembro do quanto sou feliz.
Me lembro de como a vida é bonita.
E me lembro de como é ser eu.

E tudo está bem...
De repente eu não sou mais uma estranha no meio de uma multidão.
Sou alguém especial nesse meio.
De repente minha essência volta e eu também volto a ser simples e maravilhosamente eu.


quarta-feira, 1 de junho de 2011

Imago animi vultus, indices oculi.

Os olhos são o espelho da alma.


Muitos iam e vinham.
Inúmeros.
Eu me animava por um tempo... Mas depois passava.
Era algo vazio, repetitivo...
Mesmas palavras, mesmos sorrisos...
Mesmas mãos, mesmos beijos...
Mesmas pessoas.
E meu coração batendo do mesmo jeito.

Era de praxe eu me importar com os outros.
Era natural... Vinha de mim.
Agora eu queria que alguém fizesse isso por mim...
Era pedir demais?

Eu precisava parar de priorizar os outros, e olhar mais para mim mesma.
Acreditava que só assim eu encontraria alguém que se importasse mais comigo também.

Eu pensava em tudo isso, e sentia tudo isso deitada em um dos bancos da praça arborizada em que eu estava, ouvindo uma boa música.
Até que ele veio para me tirar do meu frenesi.
Meu melhor amigo. O melhor olhar. O melhor sorriso.

Ele se sentou no chão, ao meu lado, pegou um dos meus fones de ouvido e ouviu comigo a música que eu tinha escolhido.
Solzinho quente, ventinho frio...
Cheiro de folhas.
Estava tudo bem.
Ele só me olhou e sorriu.
Ele se importava.
Eu sorri de volta.
Era uma troca.
Eu me importava.

Não dissemos nada.
Ele colocou a mão nos meus cabelos e me fez carinho.
E fechamos os olhos.
Curtindo o ventinho, o cheirinho, o calor do sol, o carinho.
O momento.