Do saber vem o ter.
Eu estava cansada de ficar em casa, ou sair com as mesmas pessoas para os mesmos lugares.
Na verdade, eu estava cansada de esperar algo acontecer.
Eu fazia minhas coisas esperando que uma pessoa especial surgisse em minha vida, como nos contos de fadas, ou como em filmes americanos.
Eu esperava que algo especial acontecesse...
E essa minha passividade já estava me irritando.
Resolvi então fazer algo, ser a mulher super ativa que eu costumava ser... Me aventurar um pouco nesse mundão louco.
Nada muito extravagante me atraía... Meu mundo, para ser realmente bom, não precisava ser tão doido... Mas eu queria algo diferente hoje.
Me arrumei. Coloquei minha melhor roupa, depois de um banho maravilhoso.
Deixei meus cabelos secarem naturalmente. Eles ondularam e enrolaram levemente...
Eu gostei.
Deixei uma parte solta, prendendo a parte de cima em um coque mal arrumado.
Ficou bem informal, natural e bonito.
Me perfumei, me maquiei e saí.
Eu estava me sentindo bem com meu salto alto, minha roupa nova e meu sorriso no rosto.
Peguei minha bolsa com minha carteira, algumas coisas para retocar a maquiagem, se fosse necessário, e meu celular.
Entrei no carro com um destino em mente: O Balada Bar.
Uma boate gostosa, com música eletrônica e pessoas bonitas.
Cheguei absoluta e entrei...
Foi aí que me senti nervosinha.
Eu estava sozinha, em uma boate na cidade grande.
O que eu esperava dessa noite?
Mas não deixei que minha insegurança me atrapalhasse.
A música era contagiante.
Não dava para não dançar, ou para eu não me sentir linda naquele lugar.
As pessoas bem arrumadas sorriam, brindavam bebidas coloridas e se conheciam.
Fui logo para o bar, pois sabia que todos que estavam na boate passariam por lá pelo menos uma vez na noite.
Observei as pessoas. Vi de tudo.
Muitos homens lindos, muitas mulheres modelos, muitos beijos, muita bebida, muitos sorrisos.
Tudo muito.
Duas amigas, então, vieram em direção ao bar.
Lindas, bem arrumadas... E pediram suas bebidas...
Eu quero um Cointreaupolitan.
E eu, um Frozen Daiquiri.
O barman sorriu para as duas fazendo, com a cabeça, um movimento de aprovação.
Eu não tinha reparado até então, mas ele era lindíssimo.
Em menos de um minuto, os drinks estavam em cima do bar.
O da primeira tinha uma cor rosa fluorescente, e o da segunda, era meio branco.
Obrigada lindão.
Não há de quê, senhorita.
Eu quero você agora, como faço?
Desculpa não poder ajudar nisso.
Pensei que estava aqui para nos servir.
Acertou senhorita. Mas só nas bebidas...
Você não é comprometido é?
Não senhorita.
É hetero?
Sim, sou.
Então o quê?
As senhoritas desejam mais alguma bebida?
Não, desejo você... E aí?
As moças quase o engoliam do outro lado do balcão... E ele, sempre sorrindo.
Eu não pude não prestar a atenção na cena.
Não estou interessado. Com licença. Deseja algo senhorita?
E deixou as amigas de lado, para me atender...
As duas saíram irritadas, como se tivessem sido, pela primeira vez na vida, dispensadas por um homem daquele porte.
Ah, é a primeira vez que venho... Pode me arrumar algum cardápio, coisa assim?
Com certeza! Um momento...
E procurou, na parte inferior do balcão, algo com os nomes e ingredientes das bebidas.
Aqui está, senhorita.
Obrigada... Você tem que aguentar quantas mulheres assim por noite?
Perguntei puxando assunto, enquanto lia os nomes estranhos dos drinks.
Eu pude ler, por cima, nomes como Golden Dream, Ferrugem, Tropial Peach, Manhattan, Caress e Crazy Mint.
Ele me abriu um sorriso gostoso.
Ah, encontro muitas desse tipo, todas as noites... Já nem conto mais... E minhas respostas são quase que automáticas.
Você deve ter perdido a conta de quantas mulheres já se envolveu por aqui, então...
Eu nem me envolvo mais... Perdeu a graça, se é que quer saber.
Mas elas eram lindas.
Sim, eram... Mas mulheres que chegam chegando assim, têm graça só no começo... Depois perdem o encanto. Hoje em dia, nem olho mais. Para mim, elas parecem todas iguais.
Entendi... Quero dois Crazy Mint.
É pra já. A senhorita está com quem? Com perdão da indiscrição.
Sozinha.
Os dois Crazy são para a senhorita?
São sim.
Aquele sorriso branquinho dele diminuiu um pouco quando disse que ambos eram para mim.
Esse é um coquetel ligeiramente forte, senhorita...
Tudo bem.
Ele ficou parado me olhando. Eu sorri.
O que foi?
Posso lhe oferecer uma outra bebida? Aposto que a senhorita irá gostar.
Eu fiquei surpresa... Por que não poderia ser a bebida que eu tinha escolhido?
O que tem de errado com a minha?
Nada senhorita, é um bom coquetel... Mas já vi mulheres fazendo coisas bem extravagantes com o Crazy... Pensei em lhe oferecer algo diferente... Algo que combinasse mais com seu porte.
Eu gostei... Não sabia se estava entendendo direito, a música era alta... Mas gostei.
Meu porte? Bom... O que tem em mente?
E enquanto conversava comigo, ia preparando meu drink. Garrafas giravam, ele dançava de forma sutil e fazia malabares com os instrumentos que tinha.
Tenho em mente o Gala Day's. É uma bebida mais suave... Mais doce, como seu sorriso... Um pouco de café, leite condensado, sorvete de creme, vodka e licor Chocolate Mint, já que queria um coquetel de menta...
Parecia realmente delicioso... E ele era muito rápido...
Foi fazendo tudo enquanto falava comigo. O vi batendo tudo na coqueteleira, colocando no copo coquetel e adicionando uma pedra de gelo.
Uma pedrinha de gelo é o suficiente para derreter o sorvete e gelar as bebidas... É uma batida mais suave, mais elegante...
Ele segurou o copo na minha frente esperando que eu o pegasse.
Eu sorria.
Nossa, impressionante! Você é rápido... Bom, vejamos...
Eu provei e era maravilhoso. Ele ficou me olhando na expectativa.
O que achou?
Nossa... Muito bom!
É por conta da casa.
Isso tinha me pego de surpresa.
O quê?! Não... Eu vou pagar, valeu muito a pena... A bebida é ótima!
Não senhorita, é por minha conta, faço questão...
Tem certeza? Qual seu nome?
Tenho certeza... Gabriel... E seu nome, senhorita?
Laura.
Eu saio do balcão daqui uma hora, Laura... Se importaria se eu te procurasse?
Ele era lindo, educado, atencioso... Eu tinha adorado tudo nele...
O estilo, as roupas, o cabelo, o sorriso, a voz, o perfume que eu sentia do outro lado do balcão, a agilidade... A forma como ele me olhava nos olhos...
Não, claro que não...
Fico feliz... Fazia muito tempo que não me interessava por alguma mulher daqui da boate...
Eu devo ter ficado vermelha, porque ele continuou...
Você é bem diferente delas... Quero te conhecer melhor.
Tudo bem, a gente conversa... Vou ficar por aqui mesmo... Perto do bar.
Certo senhorita, até depois então... Qualquer coisa, é só me chamar.
Obrigada.
Ele sorriu para mim, deu uma piscadinha e se afastou para atender as outras pessoas.
Eu sorria enquanto bebia minha deliciosa batida.
Eu tinha feito algo... Estava ativa!
E algo tinha finalmente acontecido...
Daí por diante eu não sabia o que aconteceria...
Mas já tinha valido a pena, para mim.