domingo, 12 de dezembro de 2010

Cui finis est licitus, etiam media sunt licita.

O fim justifica os meios.

Eu estava sentada do lado de fora, vendo algumas pessoas passarem.
Bem poucas. Uma? Duas?
Não me importava... Eu estava mais lá era para ver a vida passar, mesmo...
Parecia que tudo estava com um pouco menos de cor.

Mas algo aconteceu.
Algo bem diferente do que eu esperava quando resolvi ir para fora do meu apartamento.
Alguém passou por mim, e me viu... Me viu quando eu estava invisível.
Passou reto, me olhou e voltou. Eu nem o tinha visto até que ele resolveu conversar comigo.


Olá moça.
Eu sorri e respondi.
Oie!
Tudo em ordem? - a voz dele era preocupada e, ao mesmo tempo, amigável. Talvez curiosa.
Tudo indo... Tranquilo.
Ele saiu da minha frente e se sentou ao meu lado.
Certeza?
E ficou me olhando com cara de "quero mais".
Eu apenas sorri e balancei a cabeça afirmamente.
Eu não quero parecer invasivo...
Eu o interrompi, sorrindo.
Então não seja.

Depois de ter passado por tudo o que eu passei, a última coisa que eu faria seria abrir minha vida para alguém.
Não queria ter sido grossa, mas também não estava pronta para tantas questões.
Não estava pronta para uma vida tão... Social?
Queria me trancar mais um pouco ainda.
Eu tinha esse direito.

Desculpa. Tem razão. Mas é que você não parece muito bem.
Talvez eu realmente não esteja muito bem, mas sobrevivo.
Eu dizia tudo sorrindo, querendo ser, pelo menos, agradável.
Será que eu posso ajudar em algo?
Eu gostaria de responder "claro, só ir embora", mas não pude ao ver o sorriso dele no Sol.
Nossa, ele era bonito... Eu não tinha reparado.
Eu estava cega? O amor era cego? O amor pelo outro me cegou para tantas pessoas bonitas?
Eu havia reparado nele, e minha frenesi em querer só que o tempo passasse, simplesmente se foi.

Que foi?
Que foi o que Jesus? Será que fiquei reparando nele e não falei nada?
Provavelmente era exatamente isso que tinha acontecido.
Oi? Não. Acho que não tem como ajudar. Mas não é nada demais, sério. Coisa que passa.
Bom, pense assim. Há males que vêm para o bem. Se não deu certo, é que não era para dar. Provavelmente você encontrará algo melhor.
Eu só o olhei. Ele sorriu para mim.
Falei muita besteira, certo?
Não... Acho que você me entendeu bem, sem eu ter que dizer nada.

A feição dele mudou.
Antes tinha um rostinho todo fofo, querendo me agradar, querendo parecer amigável.
Agora estava mais sério. O sorriso tinha sumido do rosto dele.
Ele prestava mais a atenção em mim.

Eu tenho reparado em você. Antes você tinha um brilho nos olhos, um sorriso tão leve.
Sempre tão feliz, tão serena. Pareceu um pouco apagada agora, e eu não gostei.
Sei que não tenho que gostar de nada, a gente nem se conhece... Mas é que senti a necessidade de dizer que se precisar de mim, e sempre que precisar, pode me gritar.
Eu não sabia o que dizer. Apenas o olhava, incrédula... E sorrindo.

Nossa... Obrigada. Mesmo! Eu... Bom, não sei o que dizer, acho que não esperava isso.
Esperava o que?
Que alguém reparasse em mim.
Como assim? - ele parecia confuso.
Pode parecer bobeira, mas... Depois de tanto tempo com uma pessoa, a gente meio que se cega.
Bom, você pode ter ficado cega por um tempo, mas não eu... Não os outros.
Essa me pegou de surpresa.

Ele reparou que eu tinha ficado sem palavras... E continuou.
Agora pode voltar a enxergar...
Ah, é o que eu mais quero! Estou tentando, acredite...
Eu posso te ajudar.
Se as palavras tinham faltado antes, imagine só agora.

Eu queria perguntar como, mas não tive coragem.
Minhas mãos ficaram geladas quando ele se virou de frente para mim, ainda sentado.
Ele sorriu e passou as costas de dois dedos no meu rosto.
Depois afastou meu cabelo dos olhos e dos meus ombros e me abraçou.
Eu me desliguei no abraço dele.

Pode me abraçar também, eu juro que não mordo.
Meio sem graça por não o ter abraçado, eu fiz o mesmo.
O perfume dele era ótimo. O tamanho dele era ótimo. Ele era ótimo.
Depois que nos abraçamos, nos afastamos e ele me olhou.

Você pode até ter ficado cega, mas eu nunca deixei de enxergar seu brilho.
Não perde ele não...
Obrigada... Pela ajuda.
Pode contar, quando quiser, morena.

Ele piscou e se levantou.
Finalmente eu tinha visto que alguém tinha me enxergado.
Nova pele, nova voz... Uma outra importância.



2 comentários:

Unknown disse...

simplesmente perfeito!e sim eu tenho certeza que essa cegueira logo se transformará em brilho, luz!
eu te amo.

Gabriel M. Martins disse...

Sempre acho que namoro, casamento, romance, tem começo, meio e fim. Como tudo na vida.

Detesto quando escuto aquela conversa:
- Ah, terminei o namoro...
- Nossa, estavam juntos há tanto tempo...
- Cinco anos.... que pena... acabou...
- é... não deu certo...

Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou. E o bom da vida, é que você pode ter vários amores ;)

Otimo texto, como sempre =)

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